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Virgínia Fonseca na CPMI das Bets: entre a influência e a dissonância

14 MAI 2025

Foto: Sim, é a mesma pessoa. Uma na real, outra no virtual

A presença da influenciadora Virgínia Fonseca na CPMI das Apostas Esportivas, nessa terça-feira (13), revelou mais do que um momento político: escancarou o abismo entre persona pública e construção digital. Sentada diante dos parlamentares com uma postura calma e até doce, portando uma caneca rosa com canudo e vestida com sobriedade, Virgínia parecia representar uma outra figura, distinta da mulher milionária, ultramaquiada e hipereditada que aparece diariamente para seus mais de 53 milhões de seguidores. Quem duvida que ela aproveitou o momento para mais um marketing de milhões com a caneca fofa? E com o moletom mimoso?

Com o direito ao silêncio garantido por um habeas corpus do ministro Gilmar Mendes (STF), Virgínia optou por falar. E isso já é, por si, um ato político. O que se viu foi uma jovem mulher, segura e centrada, que contrastava com os exageros estilísticos das redes, ainda que os anéis de alto valor nos dedos lembrassem que ali estava uma figura da elite do marketing de influência brasileiro.

Curiosamente, essa mesma Virgínia que já disse ser contra o uso de filtros para modificar a aparência digital, num discurso que propõe autenticidade, apareceu com feições visivelmente diferentes das imagens publicadas em seus próprios perfis. O rosto com menos contorno, sem o brilho irreal da edição, mostrou uma mulher real, como todas as outras. E aí reside a contradição: se é contra os filtros, por que a imagem digital ainda é tão manipulada?

Esse desencontro entre discurso e prática levanta questões importantes sobre o papel das influenciadoras no imaginário coletivo. Virgínia Fonseca influencia, e muito. Lança tendências, movimenta milhões em publicidade, vende estilos de vida. Mas também confunde. Ao projetar uma imagem idealizada, edulcorada, quase inalcançável, colabora para a manutenção de um padrão estético irreal, mesmo quando, em declarações, prega autenticidade.

No contexto político, sua presença na CPMI não foi apenas simbólica: escancarou o novo protagonismo das influenciadoras como peças-chave nas engrenagens do mercado digital, incluindo setores ainda cinzentos como o das apostas online. E reforçou a urgência de entender que o poder de influência vai além de likes e publis: ele também gera responsabilidade pública.

Virgínia é, sem dúvida, uma das mulheres mais influentes da geração Z brasileira. Mas seu desafio talvez seja outro: deixar de confundir influência com performance e caminhar para uma coerência que una o que diz, o que mostra, e o que é. Porque, como se viu na CPMI, a vida real cobra presença, consistência e verdade. E filtros não sustentam reputações no mundo offline.

Autor(a): BZN



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