Política

Justiça, fé e impunidade: entre a carta do Papa e o silêncio da consciência

14 MAI 2025

Foto: BZN

Em 2020, o então ex-presidente Lula (PT), preso por corrupção e lavagem de dinheiro, recebeu uma carta pessoal do Papa Francisco. Segundo o Vaticano, o gesto teve caráter pastoral, solidariedade pela perda da esposa, Marisa Letícia. Mas o destinatário era um condenado em três instâncias, e o conteúdo foi rapidamente explorado politicamente como símbolo de “absolvição moral”. Essa narrativa se fortaleceu em 2021, quando o STF anulou suas condenações por questões processuais, não por inocência.


Lula recuperou seus direitos políticos, mas não foi absolvido no mérito. Ainda assim, consolidou-se a imagem do injustiçado, símbolo de pureza democrática. Mais que um debate jurídico, há aqui um questionamento moral e espiritual: o que a fé cristã diz sobre corrupção e poder?


A Bíblia é clara: “Não furtarás” (Êxodo 20:15). Vai além da proibição, denuncia o uso do poder para enriquecer e o silêncio cúmplice das instituições. Isaías e Miquéias alertam contra líderes que julgam por suborno e distorcem a justiça por interesses. Não é apenas sobre indivíduos corruptos, mas sistemas inteiros corrompidos, como muitos brasileiros reconheceram na Lava Jato.


Perdão não é esquecimento


O cristianismo oferece perdão, mas exige arrependimento. Jesus perdoava diante da confissão e da mudança: “Vai e não peques mais” (João 8:11). Perdão sem verdade é indulgência. Lula nunca admitiu erro. Transformou a prisão em marketing e a condenação em capital político. Seus aliados atacaram instituições e agora reescrevem os fatos com narrativas convenientes.


É legítimo o Papa escrever cartas. Mas aos cristãos cabe distinguir entre misericórdia e manipulação.


Justiça seletiva, silêncio conveniente


A anulação não inocentou Lula, apenas o poupou do julgamento final. O STF não questionou provas, apenas o local do julgamento. A tecnicalidade favoreceu o jogo político. Parte da imprensa e do clero celebraram a carta como selo de inocência, isso não é fé, é conveniência.


O cristianismo exige compromisso com a verdade, ainda que dura. Nem todo carismático é honesto. Nem toda anulação é justiça. Jesus expulsou os mercadores do templo e criticou os religiosos hipócritas. A fé não se curva ao poder,  caminha com a justiça.


Autor(a): BZN



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