Cultura

A história do avião que caiu em Muriú e teve no resgate o seridoense José Bezerra de Araújo

05 DEZ 2022

Foto: A carta de agradecimento

A neta Kyvia Bezerra Mota postou a carta no seu perfil do Instagram. Remete ao texto da prima Elza Bezerra Cirne, que escreveu sobre a história do saudoso avô José Bezerra de Araújo ao ajudar no resgate de um avião que caiu na Praia de Muriú, no litoral norte do Rio Grande do Norte e a “comunicação com a base dos americanos em Parnamirim”.


E reproduzo o ótimo texto de Elza, publicado no seu muito bom blog:


- No alto do pequeno morro próximo à casa de veraneio, o menino disputava com os amigos quem avistava mais jangadas na linha verde esmeralda do horizonte.


Confundidas com as marolas de alto-mar, as velas brancas das embarcações enganavam os observadores, mas algumas já descansavam na praia sobre troncos roliços de coqueiros no final da tarde.


Os pescadores separavam o apurado em dois dias de pesca, quando se assustaram com o voo rasante de uma aeronave. 


O pai do menino estava escolhendo peixe fresco para o jantar e sentiu o forte calor sobre sua cabeça.


Para espanto do menino e dos demais frequentadores da praia, a aeronave tocou no mastro da vela de uma jangada, arrancou a copa de um coqueiro e espedaçou-se no chão, seguida de uma grande explosão e uma imensa bola de fogo.


Os moradores e veranistas de Muriú correram para o local do acidente, por trás das casas da Cafuringa.


O menino magrinho botou sebo nas canelas e foi um dos primeiros a chegar. Seu pai também acorreu para tentar salvar alguém. Depararam-se com os corpos carbonizados.

O acidente ocorreu em 10 de janeiro de 1946, época de veraneio, que se estendia do início de dezembro até próximo ao carnaval. 


O mundo acabava de sair da Segunda Guerra Mundial. Os alarmes dos treinamentos militares e os blackouts nem bem finalizaram e a pacata praia de pescadores se assustou com o acidente de um Boeing B-17 Flying Fortress da Força Aérea Americana.


O menino de nove anos olhava espantado para aquele imenso bombardeiro espatifado no chão, com sua tripulação morta e vários pedaços do avião intactos ao redor.


Mesmo sem sobreviventes, o pai do menino decidiu comunicar o acidente às autoridades americanas. Dirigiu seu carro por duas horas e meia até Parnamirim Field.


O acordo entre Brasil e Estados Unidos permitiu a construção da maior Base Aérea americana fora do seu território, justamente em Parnamirim (ainda bairro de Natal), em razão da nossa posição estratégica global.


A Segunda Guerra mundial acabara em agosto de 1945, mas os americanos ainda permaneciam no comando de Parnamirim Field.


O pai do menino foi recebido pelo Comando da Base Aérea e acompanhou o comboio que veio até a praia de Muriú, para fazer o rescaldo do incêndio.


A praia não dormiu naquela noite. Foram mais de oito horas de trabalho de traslado dos corpos e resgate dos destroços da aeronave.


Ainda em janeiro, o pai do menino recebeu uma carta de agradecimento do Coronel Thomas D. Ferguson, Comandante do Corpo Aéreo do Exército Americano, datada em 21 de janeiro de 1946.



Avião semelhante ao que caiu em Muriú 

Autor(a): Eliana Lima



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