Na sacada central da Basílica de São Pedro, nesta quinta-feira (8), o novo papa eleito, Robert Francis Prevost, 70, surpreendeu fiéis e observadores ao retomar símbolos tradicionais do papado que haviam sido deixados de lado por seu antecessor, Francisco. 

Vestido com a mozzetta (capa curta sobre os ombros), a cruz peitoral dourada e uma estola rica em detalhes dourados, Leão XIV, como escolheu ser chamado, evocou a liturgia cerimonial típica de papados anteriores, como o de Bento XVI, que buscava reforçar a continuidade histórica da Igreja.

A escolha pelo uso desses paramentos não foi apenas estética ou protocolar. O gesto sinaliza respeito pela tradição e pelo simbolismo milenar da Igreja, sem, no entanto, indicar um retrocesso nos avanços pastorais dos últimos anos. Isso ficou evidente em seu discurso de estreia ao mundo.

Visivelmente emocionado, com voz firme e pausada, Leão XIV fez um chamado à paz, destacando a necessidade de a Igreja Católica “criar pontes”. Lembrou os muitos conflitos armados e divisões sociais no mundo contemporâneo. “A paz não é apenas ausência de guerra, mas a presença da justiça, da escuta e da solidariedade”.

Apesar de retomar elementos visuais do cerimonial papal mais tradicional, o novo pontífice fez questão de reforçar a continuidade com a visão inclusiva de Francisco. “A Igreja é para todos, e deve estar com todos”, declarou, ecoando as palavras de seu antecessor e reafirmando o compromisso com uma Igreja de portas abertas, próxima dos pobres, dos marginalizados e dos jovens.

Um papa missionário

Leão XIV é também, profundamente, um papa missionário. Membro da Ordem de Santo Agostinho, dedicou mais de duas décadas ao trabalho pastoral no Peru, onde viveu como missionário, bispo e formador de novos sacerdotes. Sua experiência nas periferias da América Latina moldou uma espiritualidade voltada para a escuta, a proximidade com o povo e a evangelização viva, em comunidades com grandes desafios sociais.

A Ordem de Santo Agostinho, à qual pertence, é uma das mais antigas da Igreja, centrada na vida comunitária, na busca da verdade e no serviço. Inspirada em Santo Agostinho de Hipona, a ordem se dedica à educação, ao diálogo e à promoção da justiça, com forte presença missionária em países em desenvolvimento. É nesse espírito que Leão XIV assume a Cátedra de Pedro.

Autor(a): BZN